quarta-feira, 13 de abril de 2011

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Comunicação unificada: um sonho distante?

Atentas ao ganho de produtividade, empresas brasileiras despertam para a convergência de tecnologias capazes de ampliar mobilidade e colaboração.

O interesse das companhias pelas ferramentas de colaboração para compartilhar ideias com suas equipes em tempo real e acelerar a tomada de decisão serviu de esteira para a implementação de Comunicação Unificada, que vem do termo inglês Unified Communicationns (UC). Seu atrativo maior é que impacta diretamente na produtividade dos funcionários, que atualmente demandam mais mobilidade e acesso às ferramentas de trabalho de qualquer lugar, pelos mais variados tipos de dispositivos.

O conceito de UC passou a ser disseminado no mercado após a adoção das redes IP, que visam redução dos gastos com a telefonia convencional. A vantagem é permitir às companhias reunir em uma mesma plataforma todos os serviços de comunicação utilizados pelos seus funcionários como telefonia (fixa e móvel), e-mail, mensageiros instantâneos, videoconferência, colaboração, redes sociais.

A união desses serviços com as aplicações de negócios possibilita aos funcionários ter na mesa do escritório ou onde quer que estejam todos os recursos de que necessitam no dia a dia para trocar informações com outras equipes, clientes e fornecedores.

Uma das vantagens de UC é que as pessoas não precisam mais fornecer o seu número fixo ou de celular. “Elas passam a ter um único número para serem localizadas, não importa onde estejam. A solução se encarrega de rotear a chamada”, explica o especialista em comunicações unificadas & colaboração da IBM para a América Latina, Bruno Eugênio Javarez.

Outro benefício é permitir que os colaboradores carreguem com eles o seu ramal telefônico, desviando as chamadas para o celular, outros números ou em outro dispositivo com o programa softphone instalado. Caso a ligação não seja atendida, a mensagem de voz poderá ser ouvida pelo e-mail, por meio de arquivos de áudio.

Pela tecnologia, é possível também participar de videoconferências do quarto de um hotel, aeroporto ou de qualquer lugar. Para isso, o usuário precisa ter aplicação nos terminais móveis e banda larga capaz de trafegar vídeo. “Com UC, as pessoas podem ficar uma semana fora sem interromper seu trabalho, visto que conseguem participar de reuniões e executar as atividades remotamente”, afirma o gerente de Marketing e Negócios da Microsoft, Eduardo Campos Oliveira.

Para facilitar a interação entre os funcionários, a plataforma mostra o status de presença de cada colaborador em ferramentas de comunicação instantâneas, como no MSN e Skype, informando em qual meio de comunicação está disponível no momento. O gerente de soluções e serviços da Siemens Enterprise, Juliano Menegazzo, garante que, além de reduzir custos, UC aumenta a produtividade e proporciona mais flexibilidade aos funcionários, o que gera retorno aos negócios.

“As pessoas perdem em média cinco horas por semana dentro das empresas, tentando se comunicar umas com as outras. Por mês, são 20 horas perdidas. Isso tem custos e gera impacto nos negócios”, diz o executivo da Siemens Enterprise.

O presidente da Avaya Brasil, Cleber Moraes, destaca que UC vem com a proposta de simplificar e melhorar a comunicação das organizações, que estão sendo forçadas a rever esses processos para acompanhar a dinâmica do mercado.

“O perfil dos usuários mudou e o poder da comunicação hoje está nas mãos deles. Eles têm celulares, tablets e querem levar seus terminais para o ambiente de trabalho”, constata Moraes. Outro problema é o uso das redes sociais, tanto pelas empresas quanto pelos funcionários, que também gera desafios de integração.

Além de ter de se preparar com os funcionários mais antigos, as companhias precisam adequar o ambiente de trabalho para a chegada da geração Y. Esses jovens gostam de se comunicar e compartilhar informações especialmente por meio de redes sociais e sistemas de mensagens instantâneas.

Essas novas exigências do mercado abrem oportunidades para a indústria de UC. A consultoria Forrester projeta que os negócios globais nessa área vão quase que quadruplicar nos próximos cinco anos, saindo de uma receita de 3,7 bilhões de dólares em 2010 para 14,5 bilhões de dólares em 2015.

Entretanto, a indústria terá de derrubar várias barreiras que impedem que esses negócios deslanchem. Elas vêm há alguns anos tentando convencer as empresas a aderirem ao conceito, que está mais avançado nos mercados europeu e norte-americano. No Brasil, o ritmo das implementações tem sido mais lento. Um dos motivos para isso são as adoções de redes IP, que começaram a ganhar força no País.

Barreiras para avanço de UC
O custo alto para substituição do grande legado das redes convencionais de telefonia, a dificuldade de integração das aplicações de negócios e o problema da interoperabilidade entre as diferentes tecnologias de fornecedores são alguns dos obstáculos para o crescimento de UC.

A analista de telecomunicações do Gartner no Brasil, Elia San Miguel, lembra que o mercado vem falando de UC desde 2000, mas a tecnologia não deslanchou por causa da confusão gerada pela indústria na forma de apresentar o conceito.

“UC não é um produto só de prateleira. É um conjunto de soluções, que faz com que os ambientes de comunicação independentes se tornem convergentes”, destaca Elia. Ela também aponta o drama do CIO para medir o retorno do investimento com a migração dos sistemas que funcionam nas redes Time Divison Multiplex (TDM) de telefonia convencional por IP.

Antes de irem para UC, as empresas precisam ter VoIP e substituir os antigos PABX analógicos conectados às redes públicas de telefonia por centrais IP. “É difícil para as companhias jogarem esse legado fora”, diz o analista de telecomunicações da IDC, João Paulo Bruder.

Elia, do Gartner, menciona também o desafio dos gestores de TI para integrar as aplicações de negócios como sistemas de gestão empresarial (ERP), Customer Relationship Management (CRM) com UC para melhorar o fluxo das informações.

Ela dá o exemplo de uma fabricante de batom, que recebe a informação dos pontos de vendas de que determinada tonalidade está sendo mais procurada e que essa comunicação precisa ser disparada para toda a cadeia de fornecimento para acionar a produção desse item.

O analista de Telecomunicações da Frost & Sullivan, Rodrigo Lima concorda que a indústria tem ainda dificuldades para passar ao mercado o que é a comunicação unificada. “Não existe consenso sobre UC. Cada um define de um jeito diferente”, percebe o consultor, que constata a existência de um grande número de ofertas no mercado, que promete integrar desde três serviços de comunicação a até oito, confundindo as empresas.
Lima acha que os fornecedores terão ainda um grande trabalho pela frente para educar as empresas sobre UC. Ele avalia que o mercado é promissor e tem potencial para o crescimento no Brasil por causa da melhoria da qualidade dos serviços de VoIP.

O executivo se baseia em estudos da Frost & Sullivan, que estimam que os negócios com telefonia IP no Brasil registram taxas de aumento acima de 20% ao ano. Dados preliminares do relatório (veja gráfico na pág. 19), referentes ao ano de 2010, revelam que o setor movimentou aproximadamente 500 milhões de reais, ante uma receita de 330,4 milhões de reais em 2009. O faturamento soma vendas de serviços, telefone IP, hardware, linhas IP e soluções UC clients.

Dessa receita total, UC representa pouco mais de 10%, ou seja, 33,3 milhões em 2009. As licenças clients tiveram peso de 30,7% e as conferências pela web registraram participação de 29,5%. Já as aplicações de softphones e Unified Messaging responderam respectivamente por 29,4% e 10,4%.

Esforço da indústria
A indústria reconhece que ainda há um longo caminho pela frente para disseminar o conceito de UC, mas considera que o momento atual está mais favorável e conta com novos aliados para ajudar a impulsionar os negócios.

Entre as novas alavancas para UC, os fornecedores mencionam cloud computing, que hoje está mais maduro; a popularização da mobilidade; e as redes sociais, que pressionam as corporações para mudar processos de comunicação com os públicos interno e externo.

“Muitos olharam UC até agora como uma promessa, mas esse mercado vai começar a andar”, acredita Luís Minoru Shibata, diretor de Consultoria da PromonLogicalis. Um dos motivos que ajudarão a impulsionar os negócios, segundo ele, é a queda do custo das soluções, auxiliado pelo aumento das implementações das redes IP, agora em maior escala no Brasil.

O preço da banda larga, que antes era uma barreira para UC, também está mais acessível. Minoru observa que essas redes estão em expansão no Brasil e tendem a dar um grande salto com os investimentos que o País terá de fazer em infraestrutura para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

O gerente de Marketing e Negócios da Microsoft, Eduardo Campos de Oliveira, acrescenta que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) também gera otimismo. O projeto que está sendo implantado pelo governo federal vai contribuir para aumentar a infraestrutura de redes no País, favorecendo esse mercado.

A mobilidade é outro fator que tende a puxar os negócios de UC. O uso de dispositivos sem fio está em franco crescimento. Pesquisas da IT Data estimam que em 2010 a base de smartphones no Brasil triplicou, passando de 1 milhão de unidades para 3 milhões de unidades. Para 2011, a IDC prevê que o País fechará com 10 milhões desses dispositivos.

Os fornecedores apostam nos tablets para estimular o mercado de UC, puxando vendas das ferramentas de vídeo e colaboração. Estudo da IDC prevê que o Brasil vendeu 100 mil desses terminais em 2010 e a projeção para 2011 é o triplo, ou seja, de 300 mil unidades.

Animadas com esse potencial, fabricantes de PABX IP estão investindo na produção desses dispositivos. No ano passado, a Avaya lançou o terminal Avaya Desktop Video Device, que vem com o Avaya Flare, uma solução que oferece recursos de colaboração da empresa, integrando vídeo, voz e textos. Para o segundo semestre, a fabricante promete versões do software, compatíveis com o sistema operacional Android e também para iPad.
A Cisco foi outra que anunciou seu ingresso nessa arena com um modelo de tablet. O dispositivo faz parte do esforço da fabricante para atrair usuários corporativos para o que ela vem chamando de Unified Communications & Colaborations (UCC).

O gerente de Negócios e Colaboração da Cisco Brasil, Ricardo Ogata, prega que o vídeo será a voz da comunicação do futuro, por transmitir a mensagem rapidamente. “Ao assistir a um vídeo, as pessoas dizem imediatamente o que não gostaram e pedem para parar”, argumenta o executivo, que prevê aumento da demanda por esse tipo de aplicação nas empresas.

Bancos, por exemplo, podem integrar essa solução ao call center e CRM para atender aos consumidores. Por acreditar nessa tendência, a fabricante adquiriu a indústria norueguesa Tandberg e está investindo em ferramentas de telepresença, bem como em videoconferência para dispositivos móveis.

Como vídeo exige muita banda, a Ogata espera que os investimentos que o Brasil está fazendo em infraestrutura e a chegada das redes 4G derrubem essa barreira.

Ajuda da nuvem
Com a evolução de cloud computig, as empresas vão poder contratar serviços de UC, sem precisar investir em novos ativos. As teles contam com ofertas nessa área para atender tanto às grandes companhias quanto aos pequenos negócios. As fornecedoras das soluções buscam alianças estratégicas com esses parceiros para tentar empurrar para cima o mercado de UC.

A Microsoft, por exemplo, fechou seu primeiro acordo no Brasil com uma tele para oferecer suas soluções de mensageria e comunicação unificada na nuvem Business Productivity Online Standard Suíte (BPOS). Sua parceira no País é a Tellfree, que tem foco no segmento de pequenas e médias empresas (PMEs).

Segundo o gerente de Marketing e Negócios da Microsoft, Eduardo Campos de Oliveira, o pacote sai por 10 dólares por mês para cada usuário. Esse valor não inclui os serviços de telecomunicações. A oferta fechada pela Tellfree com telefonia IP varia de 5 reais a 50 reais.

De acordo com Daniel Duarte, presidente da operadora, os valores dependem do volume de usuários e da quantidade de caixas de e-mails contratados. Com essa oferta, ele afirma que o serviço tem despertado muito interesse das PMEs.

Para as empresas que não querem ir para nuvem, nem adotar rede IP, a solução proposta por fornecedores, como IBM e a própria Microsoft, é usar gateway, que liga a rede TDM de telefonia convencional ao mundo IP.

Por Edileuza Soares, da Computeworld.

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